terça-feira, 12 de janeiro de 2010

À tão somente minha "June".



Musa desnivelada de sede vampiresca,
arrisca com tuas palavras despertar-me à saliência de entranhar-me por entre tua veste fresca.
Carne nua, oniricamente molhada, és e minha e tua, nessa deliciosa empreitada.
Em teus sonhos o chuveiro me molha a pele sutilmente, nos meus te tomo, como se a mim estivesse engrandecendo com o líquido que teu corpo derrama, fremente.
E exasperada fico com tuas mínimas palavras que me enervam, me violentam, me fazem ousar em pensamentos, me desesperam...
Quero, anseio, desejo ardentemente um encontro promissor, cumprindo as promessas ditas e promessas guardadas para um momento de torpor.
Entre vinhos, cigarros e boemia, lhe vejo nua, crua, minha!
E ambiciono aquela que institucionalmente a outrem possui, e o ardor da conspurcação me atenta, e meu desejo por ti...
violentamente flui.

Enterrei o nosso em vermelho-fogo...


Nunca fui destas, nunca fui daquelas, nunca fui deles... mas, já estive em chamas vermelho-fogo, e me reconheci. Daí que também já não me era minha.

Conto que passaram-se anos, desde então. Conto que ali já não era a que vos fala que chamuscava, mas, não conto que de tão vermelho... o fogo me ofuscou quaisquer possibilidades de ignorá-lo. Mesmo hoje, e mesmo mesmo mesmo agora.

Engraçado é que não fora um daqueles festejos juninos esse que me tomou, dizem também que não se trata dum fogaréu de lareira, dos que aquecem. Creio piamente que, igualmente, dispense o nome de "fogão", daqueles em que se debruçam hermeticamente os famigerados alquimistas.


Ah... lembro-me dele como um desses hits fulgazes, um transe LSD, um disco arranhado que cansara de tocar, mas que ainda me queima, cansado e distante. E que me berra o hit do momento, que me torra em "it's too late apologize."

Meu fogo vermelho, meu amor vermelho-fogo é chama, é canto que me embala na cama.



O meu nome não é importante, mas, tenho idade suficiente para saber que a vida não é tão fácil como parece. Solteira de amores, casada com desamores, naturalmente desnaturada, habito um rés-do-chão algures, nas entranhas da capital.


Escrevinho a olhar por entre as cortinas da janela, inspiradas pelos discos da avó e pela vida bizarra dos vizinhos. Vivo com dois gatos, e um batom vermelho...